sexta-feira, 25 de junho de 2021

LOCALIZAÇÃO ESPÁCIO-TEMPORAL DAS AVENTURAS DE JOHNNY FIRE

Não arriscando a foleirada de lançar para o ar números que correspondam pretensamente a percentagens, poderei apenas afirmar que a larga maioria das histórias de Johnny Fire  que aqui serão reveladas em primeira mão se passaram no Ocidente ente 1980 e 1989. Portanto, lê-las é tomar contacto com uma civilização que já desapareceu e com uma época que já não volta. Hélas!

sábado, 19 de junho de 2021

ONDE A TERRA ACABA E O MAR COMEÇA

Noite cerrada. Huis clos. Casa rústica numa pequena península outrora ilha. Estava Johnny Fire com um grupo de amigos a passar o fim-de-semana (devia ser fim-de-semana ou, pelo menos, o espírito era esse). O místico lugar encontrava-se nessa madrugada debaixo de uma tempestade brutal: chuva torrencial, vento violento e marés vivas a fustigarem as ribas. Apesar de tudo, refugiados no simples e pitoresco interior, que teria sido em tempos uma modesta cabana de pescadores, os rapazes jogavam xadrez (o jogo preferido de Johnny) ou king, enquanto as raparigas tagarelavam, de forma exagerada, talvez para exorcisarem  o permanente sobressalto causado pelos flashs dos relâmpagos e pelo ribombar dos trovões.
Subitamente, ouvem-se três pancadas fortes na grossa porta de madeira. O silêncio foi glaciar. Até Morrissey (fase Smiths) se calou, na aparelhagem portátil. Refeitos do susto, ganhando coragem em conjunto, decidiram abrir. Depararam-se com um bando de criaturas ensopadas em água, despenteadas pelo vendaval, sujas de areia, que pediam ajuda. Logo Johnny e os companheiros perceberam que os outros não procuravam refúgio na exígua casa mas sim que fossem ajudá-los a desatolar um jeep ali perto. Assim fizeram. A operação foi concluída com sucesso. Depois disso, nunca mais se viram. Mas havia qualquer coisa de estranhamente peculiar e ao mesmo tempo familiar naquele outro grupo. Volta e meia aqueles rostos ainda aparecem nos sonhos de Johnny. 

quinta-feira, 10 de junho de 2021

DE ÉPICO A LÍRICO

Era Lisboa, às portas do solstício de Verão do ano de 1985, e fazia um calor abrasador. Johnny Fire, mal dormido e pior almoçado, encaminhou-se, por sentido de obrigação, para uma das duas únicas manifestações anuais que, desde tenra adolescência, não falhava. Verdade seja dita que, desta vez, contrariamente ao habitual, ia sozinho (ou seja, não levava o seu núcleo monárquico), mas, para compensar a falta dos seus politicamente mais próximos, tinha a agradável companhia de uma bonita e famosa menina queque de longos cabelos louros, a qual fez questão de o acompanhar. Lá chegados, viu os habitués da praxe. Pequenos grupos, de meia-dúzia de indivíduos cada, que mal falam, ou falam mal, uns com os outros. Johnny, pelo contrário, falou, acenando ao longe, ou aproximando-se para os saudar, a pelo menos um membro de cada grupúsculo. Subitamente, enquanto ainda estavam a chegar pessoas ao largo que leva o nome do histórico vate lusitano que celebravam nesse dia, a amiga disse estar a sentir-se mal, com uma quebra de tensão ou coisa que o valha. Gentleman que sempre foi, Johnny apanhou um táxi mesmo ali ao lado e levou-a a casa, onde passaram um simpático resto de tarde refrescando-se a beber limonada e rindo em amena cavaqueira.
O seu lado épico tinha sucumbido ao seu lado lírico. E, de lá para cá, este passou a ser, quase sempre, o seu lado dominante.  

sábado, 5 de junho de 2021

JOHNNY MAR

Belos dias aqueles em que Johnny Fire apanhava boleia na vasta praça com nome da terra vizinha e rumava, conduzido por um desconhecido, ao maior areal ininterrupto da Europa. Habitualmente tinha uma companheira certa para o efeito, a qual era responsável pela paragem do carro, em geral guiado por um solitário que se dirigia para o mesmo destino. Claro que entre estes condutores (onde se contavam por vezes mulheres) conheceu personagens incríveis, mas essas são outras histórias e virei cá contá-las noutro dia.
Entretanto, pensar que isto era feito com inteira segurança (de pessoas e bens), nos anos 80 do século passado, é surreal, pois parece mentira mas é verdade. Lisboa ainda era uma cidade onde toda a gente tinha alguém ou algo em comum com um qualquer desconhecido acabado de conhecer.
E, depois, chegar à praia, dar um mergulho, e ficar com o corpo molhado e salgado a secar ao sol, deitado, com ou sem toalha, na areia quente, sentindo, quase colado ao seu, o belo corpo da sua atlética amiga, revelava-se o supremo remate da sensual e pura aventura. Nestes dias sentia-se Johnny Mar.

terça-feira, 1 de junho de 2021

JOHNNY GUITAR

Referências cinéfilas à parte, ou talvez não, um antigo comparsa de múltiplas aventuras (do boxe num duro clube de bairro popular às festas mais exclusivas da melhor sociedade) chamava-lhe Johnny Guitar. Conhecido esse que curiosamente comprava todos os bons discos mas, por falta de tempo, não ouvia nenhum. O epíteto Guitar, qual apelido,  não fez escola no famoso núcleo duro, que gravitava à volta desse amigo mais velho, do qual Johnny Fire era o mais novo. Contudo, em muitas aventuras deste, sente-se subliminarmente esse outro, tão diferente quão semelhante, sobrenome. Portanto, julgo ser chegado o momento dos leitores deste folhetim o saberem, para melhor mergulharem no espírito do tempo (sempre os mui queridos idos anos 80) e na alma do nosso personagem.