sábado, 24 de julho de 2021

DA VELHA E BELA ALBION

Numa das idas a Londres de Johnny Fire, por meados dos anos 80 do século passado, década de quase todas as histórias deste blogue, foi ele certa vez sair com um grupo eclético. Já sabemos que o nosso personagem gosta de variar entre ambientes opostos e pessoas contrastantes, saltando com facilidade de um lugar e de um círculo para o outro. Contudo, não é habitual que frequente sítios e grupos com essa mesma sua heterodoxa característica nesta matéria. Trocando isto por um saudoso exemplo: sempre gostou de começar a noite no Bairro Alto a jantar bem num bom restaurante ouvindo fado de qualidade com amigos betos e acabá-la num bar de vanguarda ou mesmo underground, desse  mesmo bairro lisboeta, dançando ao ritmo do som da frente rodeado de conhecidos das artes ou da boémia. Várias vezes teve a sorte de ter pessoas semelhantes a si com as quais fez este programa e outros que tais, quiçá mais radicais. Contudo, estas contam-se pelos dedos, e as que guarda com mais saudade (até porque algumas já partiram deste mundo) são mulheres, à época especialíssimas miúdas de vinte e tal anos.
Voltando àquela noite no Reino Unido, avançava pela rua o já atrás referido grupo, que tinha de tudo um pouco, não sendo, no entanto, muito numeroso: cerca de oito rapazes e raparigas; sloanes e trendies; de Portugal, Inglaterra, França e Itália. Subitamente, um muito tímido mas desbocado amigo português de Johnny avança para uma inglesa muito sloane e faz-lhe uma pergunta surreal. Cabe aqui abrir um parêntesis para  relembrar o facto de serem as pessoas reservadas as que mais capazes são de dizer as maiores barbaridades, ou pelo menos inconveniências, ou simplesmente fazer perguntas aparentemente estúpidas, como foi o caso. Note-se que ele tinha acabado de a conhecer e perguntou-lhe, do nada, por que é que as inglesas usavam a carteira à tiracolo (com a correia atravessada à frente do peito)? A miúda a quem ele inquiriu sobre isto era o que se diria em português uma menina bem. Tinha também, além do altíssimo pedigree familiar, um peito dos mais belos que vi até hoje. Ela olhou-o fixamente e respondeu-lhe, no melhor pragmatismo britânico: «É porque Londres está a tornar-se uma cidade perigosa, com gente indesejável, e fazemos isto para não sermos assaltadas. Aliás, estou cá só para estudar,  mas vivo no campo com os meus pais». Mal ele ainda acenava com a cabeça, concordando com a explicação, ela prega-lhe um brutal estaladão na cara! E remata: «Isto foi por teres olhado de maneira feia para um sítio bonito.»
Entretanto, esta moda chegou a Lisboa (pela mesma razão ou não...) e sempre que Johnny Fire passa por uma senhora a usar a carteira deste modo não consegue evitar rir-se para dentro recordando este delicioso episódio nem deixar de recordar essa agridoce inglesa que teria feito furor entre os meios betos lusitanos se cá tivesse chegado a vir antes de casar e  constituir numerosa família no countryside.